O viral “Vu pra Cametá” começou a circular na internet na última semana de dezembro do ano passado. Em oito dias, já tinha sido visto por 400 mil pessoas de 90 países diferentes; hoje, esse número chega a quase 2 milhões. O vídeo é uma versão paraense do hit “Gangnam Style”, do sul-coreano Psy. Estrelada e idealizada por Geraldo Magela, a paródia é uma produção da equipe do Paranoia, programa humorístico de TV apresentado por ele e que vai ao ar nas manhãs de domingo na RBA (Rede Brasil Amazônia), de Belém do Pará, afiliada da Rede Bandeirantes.
No vídeo, o personagem principal faz uma sátira do clipe de Psy utilizando elementos da cultura paraense. A ideia partiu do próprio Magela, que uniu a visibilidade do hit à oportunidade de divulgar o Estado. “Somos de um país chamado Pará”, diz, esbanjando simpatia. Magela representa um homem da cidade de Cametá que vai tentar a vida em Belém. Depois de enfrentar dificuldades (ele tenta de tudo: vendedor de caranguejos, peixeiro, coveiro), o personagem conclui que o melhor a fazer é voltar para o interior.
O pano de fundo da trama de “Vu pra Cametá” é a cultura paraense: Magela dança na Feira de Barreiro (feira livre tradicional de Belém) e perambula pela Praça Batista Campos, também na capital. O título da paródia, só um bom entendedor do Pará compreende. “Vu” é uma gíria local de Cametá, resquício da imigração francesa que habitou a cidade (“vous”, cuja pronúncia é “vu”, é “você” em francês). Cametá é um município que fica a 230 quilômetros de Belém. A produção do vídeo consumiu quatro intensos dias de gravação e três mil reais. “Eu vi o clipe original dezenas de vezes para identificar as cenas mais marcantes, como a do elevador e a do parquinho”, conta Magela. Todos os atores fazem parte da equipe Paranoia, com exceção das crianças dançarinas, estudantes de uma escola local que quiseram participar.
O alcance da paródia ultrapassou – e muito – as expectativas de Magela. “Recebo mais de 50 vídeos por semana de crianças dançando a minha versão”, orgulha-se. Ele e sua turma foram convidados para puxar um trio elétrico no Carnaval de Cametá, que atraiu o público recorde de 25 mil pessoas. “Tinha gente do Brasil inteiro, que foi para Cametá só pra ver aquele gordo maluco cantando a paródia”, conta. Natural de Belém, Magela nunca tinha ido a Cametá. Não há, por sinal, nenhum motivo afetivo para ele ter escolhido a cidadezinha para homenagear no viral: “Foi porque rimou”.
Não demorou muito para Magela ganhar o apelido de “Psy brasileiro” na mídia nacional. O humorista não se incomoda.  Segundo ele, ter um rótulo semelhante ao dado a Gaby Amarantos no começo de carreira (a “Beyoncé do Pará”) não o impede de mostrar ao Brasil que ele é muito mais do que isso. O apresentador de 34 anos e 1,90 metro tem 12 de experiência no rádio paraense. Ele começou a carreira artística ainda garoto, quando estreou no teatro. Ainda hoje se arrisca nos palcos: “Em breve, vou estrelar a montagem ‘Cleópatro, o Rei do Egito’”, revela. Na televisão, apresenta o Paranoia há três anos. O programa, que é o terceiro show humorístico mais assistido do Grupo Bandeirantes (só perde para Pânico na TV e CQC, segundo o Instituto de Pesquisas Magela), já guarda um acervo de mais de 50 músicas originais e inúmeros personagens cômicos. Magela pensa em projetos futuros: quer transformar a popstar inglesa Adele em paródia paraense (o personagem vai ser Adélio, irmão da cantora). “É tudo porcaria, mas eu tenho o maior orgulho. Chega de tragédia na TV”.